Recebemos da Médica e Mestre em Saúde Pública, Doutora em Educação Adriana Cavalcanti de Aguiar herdeira do Patrão Mor Aguiar, descendente do Professor Edson Schettine de Aguiar este relevante artigo.
Hoje, o ilustre Capitão de Fragata Ruy Ulisses Gonçalves da Veiga Junior comandante da Escola de Aprendizes-Marinheiros do Ceará neste dia 25 de maio inaugura uma sala da biblioteca à memória do Professor Edson Schettine de Aguiar que foi Diretor de Comunicação Social da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra e eterno amigo deste representante da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra no Estado do Ceará.
O Professor Edson Schettine de Aguiar, a Marinha do Brasil e a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará
*Adriana Cavalcanti de Aguiar
Eu era ainda menina, quando em 1972 meu pai Edson e meu tio José Maria decidiram premiar, a cada ano letivo, o aluno com melhor aproveitamento na Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará (EAMCE). Era criado o Prêmio Patrão-Mor Aguiar, em homenagem a seu pai, marinheiro cearense, o Capitão-Tenente Patrão-Mor José Maria de Aguiar, que serviu à Marinha do Brasil por 62 anos. Na formatura da turma OSCAR/2022, e sob as bênçãos do Comando da EAMCE, completa-se o cinquentenário do prêmio que leva o nome do meu avô, atualmente concedido também ao aluno com melhor aproveitamento na Escola de Aprendizes Marinheiros de Santa Catarina.
Essa homenagem ao Velho Marinheiro traduz o modo generoso de meu pai encarar a vida. Nascido em Fortaleza, amava o Ceará e a família, formada pelo marinheiro cearense e sua esposa Amélia, filha de imigrantes italianos. Uma das principais características de meu pai era a gratidão, expressa, por exemplo, no cultivo à memória do pai. “A gratidão é a memória do coração”, a frase bíblica era a sua favorita, ele que tinha um coração infinito e que acolheu e protegeu tantos amigos e alunos.
Edson Schettine de Aguiar nasceu em 22 de junho de 1931, e acompanhou o pai em etapas de sua carreira militar. Contou-me muitas histórias, em especial sobre suas vivências de menino, com a família, na Capitania Fluvial em Ladário (MS), nos anos 40. A influência do pai levou-o a ingressar no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR), no Rio de Janeiro, em 1953, formando-se em 1955. Convocado, atingiu o posto de Capitão de Infantaria R/2, servindo no 2º Batalhão da Infantaria Blindada. Em paralelo, cursou a Faculdade de Direito da então Universidade do Distrito Federal (atual Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ), concluindo o curso em 1957. Lá participou, por seis anos, como representante dos diplomados no Conselho Universitário coordenou equipe do Projeto Rondon em 1971 e 1974 no Campus Avançado em Parintins (AM), retornando em missão em 1977.
Edson Schettine de Aguiar
Como advogado, trabalhou cerca de oito anos, no Grupo João Pereira dos Santos, sob as ordens diretas do Marechal Oswaldo Cordeiro de Farias, Diretor Regional, quando muito aprendeu sobre a Força Expedicionária Brasileira (FEB) e sobre a Escola Superior de Guerra. Aprovado em concurso, ingressou no quadro de professores do Estado do Rio de Janeiro em 1966. Foi Vice-Diretor e Diretor em exercício do Colégio Estadual Amaro Cavalcanti (1968-1970), e entre 1971 e 1975 integrou a equipe da Presidência do Instituto de Previdência do Estado da Guanabara (IPEG) como profissional de Relações Públicas. Foi assessor de Relações Públicas de Secretários de Estado de Educação entre 1975 e 1979 e compôs a equipe da Secretaria de Planejamento do Estado do RJ, atuando no Palácio Guanabara nos anos 90. Concluiu sua carreira no Estado como Técnico de Comunicação Social (1ª. Categoria), atuando no Conselho Estadual de Cultura.
Sua entrada no magistério superior, em 1966, ocorreu nos Cursos de Administração e Economia, na Universidade Gama Filho (UGF), tendo lecionado Direito na Sociedade Universitária Augusto Motta (atual UNISUAM). Em 1976 assumiu a Direção do Departamento de Comunicação Social da UGF, cargo que exerceu durante 21 anos. Foi um dos pioneiros na implantação da profissão de Relações Públicas no Brasil, como docente, profissional de Comunicação, e Presidente da Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP), Secretário Geral do Conselho Regional de Profissional de Relações Públicas do Rio de Janeiro (CONRERP-RJ), Presidente do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas (CONFERP), e como Presidente eleito da Associação Brasileira de Escolas de Comunicação Social (ABECOM), no biênio 1996/1998. Em Portugal, integrou o Conselho Cientifico da Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa (Ministério da Educação português), entre 1990 e 1997, tendo atuado como conferencista daquele instituto.
O Prof. Schettine foi sócio-fundador da Sociedade de Amigos da Marinha do Rio de Janeiro (SOAMAR-RJ), onde cultivou muitas amizades, e atuou como Conselheiro até o fim da vida. Na Escola Superior de Guerra integrou a Turma Salgado Filho do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE, 1986), e desde 1987, até falecer aos 89 anos, integrou o corpo diretivo da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG). Além disso, foi docente convidado da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), do Centro de Estudos de Pessoal do Exercito (CEPE), no Forte Duque de Caxias, palestrante do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), da Escola de Guerra Naval (EGN), da 5ª Seção do Comando Militar do Leste (permanentemente), do Centro de Comunicação Social do Exército (CComsex), no então Serviço de Relações Públicas da Marinha, e palestrante no Comando Militar da Amazônia (CMA). Ao longo da sua carreira recebeu diversas distinções e condecorações, entre as quais:
- Medalha Amigo da Marinha (SOAMAR)
- Diploma de Colaborador Emérito do Exercito (Exército Brasileiro)
- Medalha do Mérito Tamandaré (Marinha do Brasil)
- Medalha do Mérito Naval (Cavaleiro) (Marinha do Brasil)
- Medalha do Pacificador (Exército Brasileiro)
- Medalha do Mérito Militar (Oficial) (Exército Brasileiro)
- Medalha do Mérito Adesguiano (ADESG)
- Medalha da Vitória (Ministério da Defesa)
- Medalha Major R/2 Thiago (Conselho Nacional de Oficiais da Reserva)
- Medalha do Mérito Marechal Cordeiro de Farias (ESG)
Com uma vida profissional intensa no Rio de Janeiro, meu pai sempre cultivou os laços com o Ceará, exercendo a gratidão e mantendo acessa a chama do afeto com familiares e com a querida EAMCE, que o brindou com significativa homenagem ao nomear, em 2008, a biblioteca em homenagem ao Patrão-Mor Aguiar.
Nessa biblioteca estão plantados valores de minha linhagem paterna, os quais, espero, inspirem muitas gerações de marinheiros. Como meu pai explicou, no discurso proferido na entrega do Prêmio Patrão-Mor Aguiar, a bordo do Contratorpedeiro Sergipe, em 1977:
“O Prêmio não visa apenas homenagear um homem que serviu ao Brasil durante 62 anos, sem uma repreensão sequer. Ele pretende homenagear a todos os anônimos que saíram do nada, e que, no cotidiano, construíram a grandeza dessa Força Naval e estimular nos jovens marinheiros a mais ampla dedicação à Pátria, crendo nos milagres da vontade, na virtude da disciplina e da ordem e, coesos, nos ajudando a enfrentar a grande guerra à miséria e ao subdesenvolvimento”.
Nossa família agradece aos comandantes dessa prestigiosa Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará, que tão fidalgamente nos acolheram ao longo de décadas, e em especial ao Capitão de Fragata, Comandante Ruy Ulisses Gonçalves da Veiga Junior e tripulação, pela generosidade de imortalizar o nome de Edson Schettine de Aguiar com uma instalação da Escola, justamente no âmbito da querida Biblioteca. Agradecemos também a bondade e a amizade do Comandante do 3º. Distrito Naval, Vice-Almirante André Moraes Ferreira.
*Médica, Mestre em Saúde Pública, Doutora em Educação
Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz
Conselheira da Sociedade de Amigos da Marinha do Rio de Janeiro
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