“… sempre impoluto de atos e palavras, em quem nunca tiveram guarida o dolo e a má fé.
De espírito puro e simples, ao atingir 80 anos é o mesmo de sempre, de atitudes firmes e de conduta impecável.
É um exemplo de vida notável e magnífica.”
Almirante Augusto Rademarker, então Vice-Presidente da República, por ocasião dos festejos dos 80 anos do Almirante Benjamim Sodré.
A Escola Superior de Guerra (ESG) foi idealizada pelo General César Obino em sua visita à América do Norte como Chefe da Comissão de Cooperação Brasil – Estados Unidos da América.
No bairro da Urca, na cidade do Rio de Janeiro, encontra-se uma fortaleza histórica denominada Fortaleza de São João, encravada na várzea existente entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar. Essa edificação, erguida por Estácio de Sá no ano de 1564, é um marco da fundação da cidade. Com o passar dos séculos, estabeleceu-se como parte do complexo fortificado de defesa da região juntamente com diversas outras construções. No ano de 1948, o General Cordeiro de Farias, escolheu um dessas para tornar-se o sítio das instalações da Escola Superior de Guerra (ESG).
A Escola Superior de Guerra (ESG) é um Instituto de Altos Estudos de Política, Estratégia e Defesa, integrante da estrutura do Ministério da Defesa, e destina-se a desenvolver e consolidar os conhecimentos necessários ao exercício de funções de direção e assessoramento superior para o planejamento da Defesa Nacional, nela incluídos os aspectos fundamentais da Segurança e do Desenvolvimento, contou com a colaboração do Almirante Benjamin de Almeida Sodré.
A Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra- ADESG foi fundada em 7 de dezembro de 1951 pelo Cearense, Almirante Benjamim Sodré que reuniu 57 estagiários da ESG e os ex-formandos da turma de 50.
Assim nasceu a ADESG. Trata-se de uma sociedade civil, sem fins lucrativos, de duração ilimitada. Considerada de utilidade pública por Decreto, em 21 de outubro de 1954.
A ADESG existe para divulgar a Doutrina da ESG e para atender aos diplomados da ESG e aos diplomados em seus Ciclos de Estudos.
Segundo o nobre Coronel Gilberto de Souza Vianna, em seu artigo; O CRUZEIRO E A CORRENTE: A ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA COMO MÁQUINA DE HEGEMONIA (1949-1961.Revista da Escola Superior de Guerra, v. 34, n. 70, p. 72-,95, jan./abr. 2019), o Almirante Benjamin de Almeida Sodré foi o primeiro Assistente da Marinha na ESG. Na Escola, este cargo está associado diretamente ao Comando de militares pertencentes à determinada Força Armada, neste caso, da Marinha. Era também responsável por estabelecer contatos diretamente com a Arma à qual pertencia. O Almirante exerceu esta função durante o período de 1950 a 1954, concomitantemente assumindo, de forma provisória, o Comando da Instituição, em substituição ao General Cordeiro de Farias por diversos momentos.
O Almirante Benjamin Sodré teve uma ação bastante efetiva na ESG, cuja experiência pedagógica em formação era amplamente reconhecida, dispondo também da confiança de Cordeiro de Farias, como citado pelo General Edmundo de Macedo Soares e Silva:
Neste texto, Cel Gilberto de Souza Vianna atesta que além do Cordeiro de Farias, que fundou a Escola, ainda encontrei lá muita gente interessante. O Almirante Benjamim Sodré era um dos assessores imediatos; era homem do escotismo, como tinha sido o José Carlos, que foi chefe do escotismo no Brasil. O Benjamim era inteiramente dedicado ao Brasil; tinha sido meia-esquerda do Botafogo e jogava bem. Tinha uma saúde de ferro, inteligência boa e um caráter excelente; foi um grande representante da Marinha na Escola. (HIPPOLITO; FARIAS, 1998, p. 131).
O Almirante apresentava uma preocupação com a questão da democracia, o que se torna evidente em seus escritos, onde reforça esta afirmação. No entanto, frisava que o pleno estabelecimento desse sistema político exigiria virtudes, e somente seria possível chegar-se a um patamar de desenvolvimento democrático avançado a partir de uma educação de qualidade: Benjamim Sodré pode ser considerado o homem das redes sociais. O associativismo, como mecanismo de criação e de manutenção de redes de confiança e espaços de sociabilidade, foi uma característica constante na sua vida. Em sua biografia, registram-se a presidência da Frente de Renovação Nacional e do Centro da Comunidade Luso-Brasileira, além de ocupar o cargo de vice-presidente da Campanha Nacional de Educandários da Comunidade (CNEC).
O pensamento pedagógico do Almirante Sodré estava diretamente influenciado pelos princípios básicos da maçonaria e do Escotismo, considerando a educação como uma jornada: “[…] é isso educar, libertar o homem desde a infância da inferioridade da vida, levando-o a amar impressões superiores” (SODRÉ, 1952, p.18). De sua passagem pelos EUA, durante a Segunda Guerra Mundial, Sodré aproximou-se do cientista, educador e maçom, Vannevar Bush. Nas conversas realizadas, Benjamin Sodré compreendeu que a educação americana era tida como um dos pilares dos Estados Unidos para a formação da grande potência a qual o país havia se tornado:
Isso é fruto de prolongado labor. Vannevar Bush, eminente pedagogo americano, aludindo à educação na sua pátria diz que “a estrutura educacional dos Estados Unidos atualmente é uma aproximação, apenas uma aproximação, do sistema que Thomas Jefferson concedeu nos primeiros dias da república”. Compreendeu que para a segurança definitiva do novo Estado duas coisas se deveriam exigir: primeiro, a educação elementar em massa: segundo a educação mais elevada, para os que lograssem a qualificação necessária, em prévia competição; ambas às expensas públicas. (VEST, 2004, p. 2)
A educação, para ele, que já se encontrava diretamente relacionada a princípios cívicos e morais, graças a sua atuação à frente do movimento escoteiro, ampliava a compreensão para uma esfera integral, que interligava valores, entendimento do respeito mútuo e da cidadania e o conhecimento técnico após o contato com Vannevar Bush, incluiu no seu escopo a importância da educação para uma Doutrina de Segurança Nacional. Obviamente, o plano básico de educação nacional brasileira, à época, deparava-se com problemas relacionados tipicamente com aquela de massa. Vislumbra, então, Benjamin Sodré a necessidade de se produzir um livro nacional, um tanto óbvio para ele que já tinha criado um Manual dos Escoteiros, e idealizou o “Manual Básico” da Escola Superior de Guerra.
Ao acreditar que a educação poderia ser um instrumento de defesa orgânica contra “ideologias estrangeiras”, sendo estas fascistas, totalitárias e antiliberais (na sua concepção, externada, mais claramente, como um instrumento marxista), nos moldes por ele engendrados, daria sustentáculo para o combate ao comunismo: “Precisamos realizar uma reação organizada; é um complemento da educação democrática necessária ao nosso povo. Devemos levar a todos os rincões a perfeita compreensão do perigo que ameaça as nossas instituições e homens” (SODRÉ, 1952, p. 30).
Origens de Benjamin de Almeida Sodré e significativas ações estratégicas em prol da nação com edificação da ADESG.
Benjamin de Almeida Sodré (Mecejana, CE, 10 de abril de 1892 — Rio de Janeiro, 1 de fevereiro de 1982) foi um Almirante da Marinha do Brasil, escoteiro e um futebolista brasileiro que ficou conhecido como “Mimi Sodré”. Campeão em 1910 e 1912, pelo Botafogo. Em 1912, também foi artilheiro do certame, com 12 gols.
Filho de Lauro Nina Sodré e Silva e de Teodora de Almeida Sodré. Seu pai foi político e militar, abolicionista e republicano histórico, constituinte em 1891, governador do Estado do Pará de 1891 a 1897 e de 1917 a 1921 e Senador de 1897 a 1917 e de 1921 a 1930.
Ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro e depois de terminar seus estudos secundários prestou concurso para admissão na Escola Naval sendo aprovado em primeiro lugar.
Conhecido jogador de futebol no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, ingressou na Escola Naval dessa cidade em março de 1910. Em 1913 presidiu a Fênix Naval, associação dos alunos da Escola Naval. Ainda nesse mesmo ano, no dia 4 de outubro, encontrava-se a bordo do rebocador Guarani quando este submergiu após colidir com o navio mercante Borborema, tendo conseguido sobreviver ao lado de outros colegas. Foi promovido a segundo-tenente em julho de 1914, a primeiro-tenente em dezembro de 1917, a capitão-tenente em abril de 1923 e a capitão-de-corveta em outubro de 1933.
No posto de contra-almirante, comandou o V Distrito Naval (V DN) de 1949 a 1951. No ano seguinte participou da criação da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG), da qual foi o primeiro presidente, e em 1953 chefiou o departamento de estudos da Escola Superior de Guerra (ESG). De fevereiro a junho de 1954 comandou o I DN, sediado no Distrito Federal, em substituição ao contra-almirante Maurício Xavier do Prado. Passou o cargo ao vice-almirante Jorge Matoso Maia e no ano seguinte, já como almirante, foi inspetor-geral da Marinha.
Participou do movimento militar de 11 de novembro de 1955, liderado pelo general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra até a véspera, que visava, segundo seus promotores, barrar uma conspiração em marcha no governo e assegurar a posse do presidente eleito Juscelino Kubitschek. Embora os ministros da Aeronáutica e da Marinha se colocassem contra a atitude de Lott, dentro da Marinha não existiu consenso e, enquanto representante do Conselho do Almirantado, Benjamim Sodré manifestou-se disposto a acatar as deliberações do Congresso Nacional no sentido do retorno às normas constitucionais vigentes. O movimento provocou o impedimento dos presidentes da República Carlos Luz, em exercício, e Café Filho, licenciado, empossando na chefia da nação o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, que procedeu à sucessão presidencial dando posse aos eleitos em janeiro do ano seguinte.
Benjamim Sodré presidiu, em 1961, o Cenáculo Fluminense de História e de Letras. Foi presidente da Frente de Renovação Nacional e do Centro da Comunidade Luso-Brasileira e ocupou o cargo de vice-presidente da Campanha Nacional de Educandários da Comunidade (CNEC). Grande incentivador da prática do escotismo no país, promoveu a criação da União dos Escoteiros do Brasil. Além disso, organizou a Federação dos Escoteiros Paraenses, criou o primeiro Grupo de Escoteiros de Belém e foi o iniciador dos Escoteiros do Mar, além de presidente de sua federação. Foi também grão-mestre de maçonaria da Loja Grande Oriente do Brasil.
Benjamin Sodré mais tarde se tornaria um personagem muito importante na história do Escotismo brasileiro. o que lhe valeu ser conhecido pelos escoteiros como “O Velho Lobo”, teve em sua vida muitas passagens e características semelhantes às de Robert Baden-Powell.
O Velho Lobo, assim como o fundador Baden-Powell, tinha uma série de talentos e interesses diferentes. Foi professor de astronomia, navegação e história da Escola Naval, publicou diversos trabalhos, foi maçom e sobretudo um excelente jogador de futebol, ponta esquerda do time do América-RJ, do Botafogo e da Seleção Brasileira de Futebol entre 1910 e 1916.
Desde que entrou em contato com o Movimento Escoteiro tornou-se um grande seguidor dos ideais de Baden-Powell, participando da fundação e organização dos Escoteiros do Mar, o primeiro Grupo Escoteiro de Belém, a Federação de Escoteiros paranaenses, entre outros. Escreveu o “Guia do Escoteiro” de 1925, uma das mais importantes obras do Escotismo brasileiro.
Foi fundador também do Grupo Escoteiro do Mar Gaviões do Mar, o 4°/RJ, localizado na Ilha de Boa Viagem em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro
Os escoteiros do Brasil nesse período eram divididos em diversas federações e não constituíam uma unidade central. Desta forma, O Velho Lobo teve papel fundamental na idealização e criação da União dos Escoteiros do Brasil, a UEB, reunindo as quatro primeiras federações (a Federação de Escoteiros Católicos do Brasil, Federação Brasileira de Escoteiros do Mar, Federação dos Escoteiros do Brasil e Federação Fluminense de Escoteiros).
Depois de ter alcançado o posto de Almirante de Esquadra da Marinha do Brasil, exerceu a Presidência da UEB União dos Escoteiros do Brasil, da CNEC Campanha Nacional das Escolas da Comunidade e da Comissão Nacional de Moral e Civismo.
Faleceu em 1 de fevereiro de 1982, pouco mais de dois meses antes de completar 90 anos. Atualmente vários Grupos Escoteiros, ruas e espaços municipais levam o nome de Almirante Benjamin Sodré, em sua homenagem. Os Escoteiros do Brasil que completam 50 anos de bons serviços para a instituição são reconhecidos com a “Medalha Velho Lobo”, em referência e homenagem a Benjamim Sodré.
Foi honrado com uma série de títulos, entre eles o de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro e outros Estados e medalhas de mérito, presidindo a Ordem do Tapir de Prata, a mais alta condecoração do Escotismo brasileiro.
É o patrono oficial da turma de 1985 do Colégio Naval e de 1991 da Escola Naval que celebra seus 30 anos em 21/03/2015 com evento comemorativo e Cerimônia Militar no Colégio Naval.
No Bairro de Boa Viagem, em Niterói, Código de Endereçamento Postal 24210-390, e no bairro das Laranjeiras, Código de Endereçamento Postal 222440-080, na Capital do Estado do Rio de Janeiro, recebem o nome de Avenida e Rua Almirante Benjamin Sodré, respectivamente. Também na cidade Canapi no estado de Alagoas há uma escola na zona rural, mais precisamente no sítio cova do casado que leva em seu nome Almirante Benjamin de Almeida Sodré.
Publicou Guia dos escoteiros, Organização e características das forças navais, A educação e a segurança nacional, Aspirações e interesses nacionais, Objetivos permanentes do Brasil, Educação extraescolar, Organização extraescolar, Organização do trabalho intelectual, A Marinha na nossa história, Tamandaré, Onze de junho, Lauro Sodré — vida, caráter e sentimento a serviço de um povo, Caderno do escoteiro, O dia da pátria, Quinto centenário do infante d. Henrique, Segundo centenário de José Bonifácio.
Fonte:
Cel Gilberto de Souza Vianna: “O CRUZEIRO E A CORRENTE: A ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA COMO MÁQUINA DE HEGEMONIA (1949-1961)”.
A Educação Pelo Exemplo – Momentos da Vida de Benjamin Sodré, Dora Sodré – Rio de Janeiro; ERCA Editora e Gráfica, 1989.
Construindo o Futuro – Novas Gerações Na Trilha da Responsabilidade Social, Joper Padrão – Rio de Janeiro; Editoria, 2013. Citado no Capítulo “Novas gerações engatinham para o futuro” página 149.
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/benjamim-de-almeida-sodre