Formada por dez ilhas no meio do oceano atlântico, conhecidas carinhosamente como “Os dez grãozinhos de terra”, Cabo Verde é uma terra de onde parecem brotar artistas talentosos e melodias que exaltam a beleza do mar e a saudade dos que se foram.
Do passado ao presente em direção do futuro
S. Vicente foi, no passado, o centro económico, político, cultural e intelectual de Cabo Verde. Foi nesta ilha que se implantaram, no século XIX, com o arranque da Segunda Revolução Industrial, as primeiras unidades industriais e comerciais do arquipélago, que dinamizaram toda a vida económica da então colónia. S. Vicente passaria então a ser o coração do Arquipélago. Graças à abertura ao exterior proporcionada pelo seu importante porto de mar, Mindelo tornou-se um centro cosmopolita, fervilhando de atividades culturais, artísticas e recreativas, que projetaram a ilha no mundo. Abrigou as melhores escolas e o primeiro liceu da colónia, tendo sido o berço da quase totalidade da passada e atual “intelligentsia” cabo-verdiana, assim como da maior parte da atual classe dirigente do país.
A 5 de julho de 1975, fora proclamada a independência de Cabo Verde, território colonizado pelo império português a partir de meados do séc. XV. O surgimento do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) serviu para congregar e lutar pelas aspirações autonomistas e independentistas nos territórios insulares de Cabo Verde e da Guiné-Bissau a partir de1956. Com o advento do 25 de Abril e, por conseguinte, o fim da Guerra Colonial, a independência do arquipélago viria a concretizar-se a 5 de julho de 1975.
A História De Cabo Verde
O arquipélago de Cabo Verde terá sido descoberto no ano de 1460 por navegadores italianos e portugueses. Santiago foi a ilha mais favorável para a ocupação e assim o povoamento começa ali em 1462. Dada a sua posição estratégica, nas rotas que ligavam entre si a Europa, a África e o Brasil, as ilhas serviram de entreposto comercial e de aprovisionamento, com particular destaque no tráfego de escravos. Cedo, o arquipélago tornou-se num centro de concentração e dispersão de homens, plantas e animais. Com a abolição do comércio de escravos e a constante deterioração das condições climáticas, Cabo Verde entrou em decadência e passou a viver com base numa economia pobre, de subsistência.
Europeus livres e escravos da costa africana fundiram-se num só povo, o cabo-verdiano, com uma forma de estar e viver muito própria e o crioulo emergiu como idioma da comunidade maioritariamente mestiça. Em 1956, Amílcar Cabral criou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), lutando contra o colonialismo e iniciando uma marcha para a independência. A 19 de Dezembro de 1974 foi assinado um acordo entre o PAIGC e Portugal, instaurando-se um governo de transição em Cabo Verde. Este mesmo Governo preparou as eleições para uma Assembleia Nacional Popular que em 5 de julho de 1975 proclamou a independência. A demarcação cultural em relação a Portugal e a divulgação de ideias nacionalistas conduziram à independência do arquipélago em julho de 1975. Em 1991, na sequência das primeiras eleições multipartidárias realizadas no país, foi instituída uma democracia parlamentar com todas as instituições de uma democracia moderna. Hoje Cabo verde é um país com estabilidade e paz sociais, pelo que goza de crédito junto de governos, empresas e instituições financeiras internacionais.
Cabo Verde, memórias por biografias, autobiografias, romances históricos.
As tentativas mais significativas de tentar inscrever na memória coletiva um sentido para a história recente de Cabo Verde tem sido protagonizadas por alguns pesquisadores e pelos próprios atores políticos. Neste processo, biografias, autobiografias, romances históricos e depoimentos têm surgido de forma crescente, bem como, em alguns casos, as contestações.
No domínio dos relatos, com um certo pendor (auto)biográfico, poderemos citar o livro de Pedro Martins “Testemunhos de um combatente” (1995) no qual narra a sua experiência no Campo de Concentração do Tarrafal e as atividades políticas que, imediatamente, se seguiram à Revolução dos Cravos. A recepção da obra parece ter sido pacífica, não tendo merecido contraposições narrativas.
Em contrapartida, o livro de Jorge Querido Cabo Verde, Subsídios para história da nossa luta de libertação (1989) no qual o autor reflete sobre a luta pela independência de Cabo Verde protagonizada pelo PAIGC, do qual era militante e um dos responsáveis em Portugal e em Cabo Verde, e as vicissitudes e lutas políticas e ideológicas internas, nomeadamente a questão dos trotskistas, mereceu de imediato uma contestação de um dos atores analisados. Com efeito, Manuel Faustino publica, um ano após o aparecimento da obra Cabo Verde, Subsídios para a história de nossa luta de libertação, o livro Jorge Querido: subsídios sob suspeita (1990).
Nessa mesma senda de obras biográficas, podemos, ainda, apontar o livro de Aristides Pereira Uma luta, um partido, dois países (2003), no qual este fundador do PAIGC e primeiro presidente da República de Cabo Verde narra a sua trajetória, a do seu partido e da luta de libertação até a independência. Um segundo livro, sobre este mesmo político, foi escrito por José Vicente Lopes, intitulando-se Aristides Pereira. Minha vida, minha história (2012) e recobre o período pós-independência.
No domínio de recolha e análise de relatos e depoimentos, deve assinalar-se a obra de José Vicente Lopes Os Bastidores da Independência (2002), na qual o autor busca reconstruir o processo que conduz à independência de Cabo Verde e os mais importantes embates políticos e ideológicos travados, recorrendo, essencialmente, a depoimentos dos principais intervenientes. Este livro de imediato suscitou reações, sendo a mais significativa a de Caldeira Marques, jurista cabo-verdiano residente em Lisboa. A resposta, violenta, veio sob a forma de uma publicação intitulada Os Bazófios da independência (com uma carta inédita de Baltazar Lopes da Silva), editada em 1999, ou seja, dois anos após a publicação da obra de José Vicente Lopes.
No domínio ensaístico, podemos ainda sublinhar os trabalhos que aparecem em meados dos anos noventa do século passado, imediatamente após a abertura política e o estabelecimento do multipartidarismo. São obras que buscam, essencialmente, resgatar a história política do Cabo Verde pós-independente, dando visibilidade a fatos e acontecimentos fraturantes.
No domínio da literatura, o romance-histórico mais marcante foi, sem dúvida, “O dia das calças roladas” de Germano Almeida (1992) que, a partir da análise dos processos judiciais e das declarações prestadas por presos que foram implicados nas manifestações ocorridas nos dias 30 e 31 de Agosto de 1981 em algumas localidades do município de Ribeira Grande, ilha de Santo Antão, reconstrói ficcionalmente os fatos imputando responsabilidades ao regime vigente pela repressão e morte de um dos manifestantes. A contestação popular nos vales de Ribeira Grande teve como leitmotiv a lei de bases da Reforma Agrária, colocada em discussão pública antes de sua aprovação pelo Parlamento Cabo-verdiano. Da manifestação e do confronto com as forças policiais resultaram uma morte, feridos e presos que viriam a ser submetidos a julgamento no Tribunal da Comarca de S. Vicente.
A Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra no Estado do Ceará participa desta nobre comemoração e aniversário da independência de uma das mais jovens nações africanas de língua portuguesa: Cabo Verde sob a segura administração do senhor José Maria Pereira Neves, 5.º Presidente de Cabo Verde.
Agradecemos ainda ao Sr. Embaixador, José Pedro Chantre D’Oliveira por sua insigne participação de posicionar na República do Cabo Verde a estátua do Almirante Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré, o Patrono da Marinha do Brasil sob os auspícios de um velho marinheiro que realizou este legado em Fortaleza e agora em além mar! A doação em Cabo Verde foi realizada pela Reserva do Almirante por seu presidente veterano fuzileiro naval Carlos Henrique Guts de Moura. A marinha estará doando em breve a ilha de São Vicente, na cidade de Mindelo, CV, com a anuência do presidente da Câmara e prefeito Augusto Neves e com a base edificada pela construtora SGL este momento histórico.
Neste instante do aniversário, o amor do empresário Carlos GUTS de Moura a Cabo Verde constrói em parceria com o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE) José Cid Sousa Alves do Nascimento a criação da câmara de comércio Brasil – Cabo Verde no Ceará. Além dos assuntos do comércio bilateral introduz a criação de atos relevantes do ensino, transferência de tecnologias aplicadas aos empreendimentos que pretendem levar para Cabo Verde, formação de quadros técnicos de jovens nas áreas de tecnologia e geração de energia e transição energéticas. E, na produção de alimentos considerando a manutenção do meio ambiente e aproveitamento da grande biodiversidade das ilhas na economia azul.
Fonte: Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 42, n. 3, p. 855-887, set.-dez. 2016
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